quarta-feira, 1 de dezembro de 2010










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Combinar sapato com bolsa já era, é antiquado. Calcinha bege. Banalização do verbo "amar". Perder quem se gosta por orgulho. Arrependimento muito tempo depois. Tentar requentar relacionamentos. Acessórios em excesso. Domingo à noite. Pessoas inconvenientes. Gente grudenta. Não quer, mas também não sai de cima. Unhas decoradas. Glamour decadente. Erros grotescos de português. Brigar na balada. Pochete. Esperar em fila. Trânsito caótico. Palitar os dentes. Breguice incurável. Verde e amarelo da cabeça aos pés. Cusparadas em campo. Dormir chorando. Dia de chuva, e você como pinto molhado. Comida sem sal. Conselhos clichês. Colegas retardados. Negrito, itálico, e letras coloridas. Rancor e apego ao passado. Síndrome de esquilo. Piriguetes vazadas. Ansiedade e mãos suadas. Taxista tagarela. Bigodinho de carroceiro. Lobos em pele de cordeiros. Falsos moralistas. Perguntas nerds no final da aula. Casamentos por interesse. Preço dos alimentos subir, e a fome no país apenas aumentar. Olhares indecentes. Falar cuspindo. Homens lindos, e burros. Enfim, infle o peito e se não puder dizer, pense alto: UÓ!




Hoje eu acordeei tão ótimista (é tão bom isso)
que me fez dá aquele soriso de antigamente (L)














"Mulher é chata. Me incluo. Uma mulher madura troca sonhos por objetivos. Não tenho nada a ver com explosões. Abraços me seguram. E eu me agarro. Não me envolvo com o que não me envolve, sobra pouco de mim para intromissões no que me é ainda mais estranho do que eu mesma, um personagem que esquece a fala."

(Martha Medeiros)





domingo, 28 de novembro de 2010

Alisson Mathias *o*




                        
tenho mt o que falar desse menino, como todas as pessoas tem defeitos, aah xz ' ele tem e muito assim como eu, mais sabemos a vencer todas as dificuldades. estudar no mesmo colegio não é facil, ashuahsuashuh'
te adoro pé-de-galo *-----------*
amo mt mt mt vc <3
precisando estarei as ordens irmão ♥

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Clarice Lispector *-*

Palavras que nos comprometem

Ele estava fazendo um sonho - que era o único modo como a verdade podia vir a ele e como ele podia vivê-la. Será então indispensável entender perfeitamente o que lhe acontecia? Se nós profundamente o entendemos, precisamos também entendê-lo superficialmente? Se reconhecemos no seu mover-se lento o nosso próprio formar-se - assim como se reconhece um lugar onde pelo menos uma vez se esteve - será necessário traduzi-lo em palavras que nos comprometem?



Importância

"Porque se subitamente fôssemos dar importância ao que realmente nos importa - estaríamos com a vida perdida"

Consciência

E de tal modo nesta semana já havia acontecido o que quer que fosse, e de tal modo se haviam ligado aos elos invisíveis que, ao fim de sete dias, sucedera essa coisa de que inesperadamente se toma consciência: um passado.

Só nas minhas noites

Nunca, até então, a vida me havia acontecido de dia. Nunca à luz do Sol. Só nas minhas noites é que o mundo se revolvia lentamente. Só que, aquilo que acontecia no escuro da própria noite, também acontecia ao mesmo tempo nas minhas próprias entranhas, e o meu escuro não se diferenciava do escuro de fora, e de manhã, ao abrir olhos, o mundo continuava sendo uma superfície: a vida secreta da noite em breve se reduzia na boca ao gosto de um pesadelo que some. Mas agora a vida estava acontecendo de dia. Inegável e para ser vista. A menos que eu desviasse os olhos.

Como perfume

"Os pensamentos sobre as coisas existem nas próprias coisas sem se prenderem a quem as observa; os pensamentos sobre as coisas saem delas como o perfume se desprende da flor, mesmo que ninguém a cheire, mesmo que ninguém saiba sequer que essa flor existe... o pensamento da coisa existe assim tanto como a própria coisa, não em palavras de explicação, mas como outra ordem de fatos; fatos rápidos, sutis, visíveis exatamente por algum sentido, assim como só o olfato percebe o perfume da flor."

É pra lá que eu vou...

"O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós."

Não soltar os cavalos

Como em tudo, no escrever também tenho uma espécie de receio de ir longe demais. Que será isso? Por quê? Retenho-me, como se retivesse as rédeas de um cavalo que poderia galopar e me levar Deus sabe onde. Eu me guardo. Por que e para quê? para o que estou eu me poupando? Eu já tive clara consciência disso quando uma vez escrevi: "é preciso não ter medo de criar". Por que o medo? Medo de conhecer os limites de minha capacidade? ou medo do aprendiz de feiticeiro que não sabia como parar? Quem sabe, assim como uma mulher que se guarda intocada para dar-se um dia ao amor, talvez eu queira morrer toda inteira para que Deus me tenha toda.

Ferir um cão

Há tantas formas de ser culpado e de perder-se para sempre e de se trair e de não se enfrentar. "Eu escolhi a de ferir um cão", pensou o homem. "Porque eu sabia que esse seria um crime menor e que ninguém vai para o Inferno por abandonar um cão que confiou num homem. Porque eu sabia que esse crime não era punível."
Sentado na chapada, sua cabeça matemática estava fria e inteligente. Só agora ele parecia compreender, em toda sua gélida plenitude, que fizera com o cão algo realmente impune e para sempre. Pois ainda não haviam inventado castigo para os grandes crimes disfarçados e para as profundas traições.

Eu vi

Eu era uma menina muito curiosa e, para a minha palidez, eu vi. Eriçada, prestes a vomitar, embora até hoje não saiba ao certo o que vi. Vi tão fundo quanto numa boca, de chofre eu via o abismo do mundo. Aquilo que eu via era anônimo como uma barriga aberta para uma operação de intestinos. Vi uma coisa se fazendo na sua cara - o mal-estar já petrificado subia com esforço até sua pele, vi a careta vagarosamente hesitando e quebrando uma crosta - mas essa coisa que em muda catástrofe se desenraizava, essa coisa ainda se parecia tão pouco com um sorriso como se um fígado ou um pé tentassem sorrir, não sei. O que vi, vi tão de perto que não sei o que vi. Como se meu olho curioso se tivesse colado ao buraco da fechadura e em choque deparasse do outro lado com outro olho colado me olhando. Eu vi dentro de um olho. (...) Eu o olhava surpreendida, e para sempre não soube o que vi, o que eu vira poderia cegar os curiosos.

Gafe

"Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe" 

Uma lucidez vazia

"Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém."

Ilimitada

"Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me. Mal posso acreditar que tenho limites, que sou recortada e  definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma."

Jamais alguma coisa tivesse estado tão perto deles

"A casa era alta, e perto, eles não podiam olhá-la sem ter que levantar infantilmente a cabeça, o que os tornou de súbito muito pequenos e transformou a casa em mansão. Era como se jamais alguma coisa tivesse estado tão perto deles. A casa devia ter tido uma cor. E qualquer que fosse a cor primitva das janelas, estas eram agora apenas velhas e sólidas. Apequenados, eles abriram os olhos espantados: a casa era angustiada.
A casa era angústia e calma. Como palavra nenhuma o fora. Era uma construção que pesava no peito dos dois meninos. Um sobrado como quem leva a mão à garganta. Quem? quem a construíra, levantando aquela feiúra pedra por pedra, aquela catedral do medo solidificado?! Ou fora o tempo que se colara em paredes simples e lhes dera aquele ar de estrangulamento, aquele silêncio de enforcado tranqüilo? A casa era forte como um boxeur sem pescoço. E ter a cabeça diretamente ligada aos ombros era a angústia."

Mesclada ao erro

"E como precisamos de perdão. Porque a própria vida  já vem mesclada ao erro."

Tristeza

"Tanto sol, preso ao chão como se nascesse dele. O mar, a barriga do mar, calada, arquejante. Os peixes em domingo, volteando rapidamente as caudas e serenos continuando a abrir caminho. Um navio parado. Domingo. Os marinheiros passeando pelo cais, pela praça. Um vestido cor-de-rosa aparecendo e desaparecendo numa esquina. As árvores cristalizadas em domingo, -domingo é qualquer coisa como árvores de Natal- brilhando silenciosas, contendo, assim, assim, a respiração. Um homem passando com uma mulher de vestido novo. O homem quer não ser nada, anda ao lado dela olhando-a quase de frente, indagando, indagando: diga, mande, pise. Ela não respondendo, sorrindo, puro domingo. Satisfação, satisfação. Pura tristeza sem mágoa. Tristeza que parece vir de trás da mulher de cor-de-rosa. Tristeza de domingo no cais do porto, os marinheiros emprestados à terra. Essa tristeza leve é a constatação de viver. Como não se sabe de que modo usar esse conhecimento súbito, vem a tristeza."

Óbvio

"O óbvio, Lóri, é a verdade mais difícil de se enxergar."

Distância

"Ele estava vivendo longe. Eu te sinto em alguma parte e não sei onde estás - conseguia ela pensar em palavras. Seu amor era tão fino que ela sorriu constrangida, atravessada por uma frígida sensação de existir. Parecia-lhe extremamente estranho que nessa mesma noite ele vivesse nesse mesmo mundo, que não estivessem juntos e ela não visse o que ele fazia, tão mais forte que a distância era o seu pensamento de amor. Amor era assim, não se compreendia a separação - concluía com docilidade."

Indestrutível

"Sim, pensava longinquamente, fitando-o. Há coisas indestrutíveis que acompanham o corpo até a morte como se tivessem nascido com ele. E uma delas é o que se criou entre um homem e uma mulher que viveram juntos certos momentos."

Felizmente mais doida

"A prova de que estou recuperando a saúde mental, é que estou cada minuto mais permissiva: eu me permito mais liberdade e mais experiências. E aceito o acaso. Anseio pelo que ainda não experimentei. Maior espaço psíquico. Estou felizmente mais doida."